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CHEGOU A MINHA VEZ!
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CHEGOU A MINHA VEZ!

CHEGOU A MINHA VEZ!

Foram dois anos e dois meses de pandemia até que a Covid 19 me contaminasse. Na verdade, eu contraí o vírus nesta semana, mas a doença me pegou mesmo lá em janeiro de 2020, quando os primeiros relatos de uma misteriosa doença contaminaram chineses em um mercado público de Wuhan.

Eu sempre fui intrigado e curioso por doenças virais. Apesar de ter apenas uns 10 anos de idade, lembro vividamente do surgimento da AIDS. Os primeiros relatos, o vírus desconhecido e mutante, que se escondia no corpo humano e ficava lá, latente durante anos. Com pouco mais de 12 anos, o primeiro trabalho com tema livre de biologia, lá estava eu, escrevendo sobre o HIV.

Os anos passaram e fui morar nos Estados Unidos por um ano. Era 1994 e fui fazer o último ano do Ensino Médio. Passeando por uma livraria, a capa de um livro, com um vírus desenhado, me chamou a atenção. Comprei o livro e o devorei, li em dois dias. Era uma mistura de ficção com realidade chamada The Hot Zone, ou Zona Quente em português. Um livro que falava sobre um vírus mortal que se saia dos macacos, infectava humanos e se tornava transmissível pelo ar.

Mais tarde, quando terminei o Ensino Médio, minha mãe adotiva americana me deu de presente de formatura, outro livro. Se chamava The Coming Plague, uma bíblia sobre os mais diversos patógenos que poderiam vir a ser a próxima grande pandemia.

Acabei me afastando desta paixão e fui fazer Odontologia. Mas os bichinhos microscópicos seguiram me fascinando. Até que, em 2020, a tão falada e prevista pandemia veio. Infelizmente, de tempos em tempos, a humanidade é acometida por pandemias que matam milhões. A última grande havia sido a gripe espanhola em meados do século XX.

Quando ela chegou, eu compreendi que chegara a hora de transformar aquele fascínio em algo útil. E, assim eu fiz. Depois de uma primeira entrevista na rádio, fui convidado pelo Lucas e pelo Bráulio Ricardo a falar todos os dias sobre a pandemia. Li muito, estudei, me esforcei ao máximo para entregar aos ouvintes uma informação precisa, livre de paixões ou viés político.

Vi a pandemia levar pessoas queridas, pacientes, amigos. Passei o susto de ver meus pais contaminados. Mas curiosamente havia sempre me escapado da doença.

Pois agora, leitor, enquanto escrevo esse texto, tenho em meu corpo o vírus que tanto me fascinou, que tanto estudei. Consegui por mais de dois anos fugir dele. Felizmente, a vacina chegou e pude me preparar com as três doses. Agora, se Deus quiser, vou apenas esperar alguns dias em casa enquanto meu corpo, já treinado e com anticorpos, dá conta dele. Graças à vacina!

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