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DIAS INTERESSANTES?
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DIAS INTERESSANTES?

Até há pouco eu achava simpática a frase “Que você viva em dias interessantes”. Pensava que tinha a ver com quebra de monotonia, sair da zona de conforto, coisas assim. Pois agora o desinformado aqui descobriu que é uma antiga maldição de sábios, supostamente chineses, em que eles desejavam aos outros, sob o título “interessantes”, tempos instáveis e de crise para testar a nossa capacidade de suportá-los e aprender com eles. Aqueles orientais receitavam, então, muito mais do que eu extraía dessa frase, que, de bonitinha, passei agora a achar meio assombrosa.
Em uma Salada Cultural anterior, abordando o infeliz advento dessa pandemia modelo 2020, usei o quase bordão “a história se repete”. Refuto a opinião dos irados que classificam a Covid19 como criação maligna dos chineses, mas olhem aí a, se não repetição, coincidência: estamos vivendo tempos terrivelmente “interessantes”, originados na China e preconizados por eles mesmos, há séculos atrás. Vamos enfrentá-los, com coragem e máscaras, para dar nos dedos daqueles bidus chineses.
Como a literatura se municia também das catástrofes que marcaram o mundo, a pandemia e esses dias contemplativos fazem lembrar de duas obras que tiveram como pano de fundo épocas de medo e estamparam o despreparo para evitar contágios de porte:

Quando a cólera não é a ira

O amor nos tempos do cólera é uma obra - gol de placa do Nobel de Literatura Gabriel García Marquez que talvez você tenha pensado em reler (se já não o fez). Se ainda não leu, aproveite. Peça emprestado na sua rede de amigos ou ligue para uma livraria local te mandar, via delivery. O realismo mágico de Marquez destila a intensidade da paixão de um triângulo amoroso na melhor idade em uma cidade caribenha assolada pela doença infecciosa, assim descrita por ele:
“Nas duas primeiras semanas do cólera o cemitério transbordou, e não ficou um único lugar nas igrejas, apesar de haverem passado ao ossuário comum os restos carcomidos de numerosos próceres sem nome. O ar da catedral ficou rarefeito com os vapores das criptas mal lacradas, e suas portas só vieram a se abrir três anos depois”.
A adoração de dois homens por uma mulher, no entanto, se sobrepujou à morbidez daquele momento e mostrou que “os sintomas do amor são os mesmos do cólera” (GGM). A descrição de detalhes da cidade me fez incluir Cartagena das Índias (foto ao lado) na relação de viagens a fazer. O “amor de febre e vômitos” de Florentino Ariza por Fermina Daza, ao final novamente correspondido quando ela enviuvou do médico que viera da Europa para debelar a peste, é na verdade inspirado na própria vida dos pais de García Marquez.

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Em tempo: “A cólera” refere-se ao estado de raiva extrema a que pode chegar uma pessoa, e é utilizada no feminino. Já “o cólera” refere-se à doença causada pelo chamado vibrião colérico, e é utilizada no masculino (do site Língua Portuguesa descomplicada).

No início, eram os ratos

Jornalista, escritor e ganhador de um Nobel de Literatura, tal qual García Marquez, Albert Camus escreveu uma obra que parece nos preparar para tragédias latentes e cíclicas. No seu clássico A peste - cujas vendas dispararam com o evento da Covid19 - esse franco-argelino conta a história de uma cidade na Argélia onde subitamente ratos mortos enchem as ruas e são recolhidos pelas autoridades. O que em um primeiro momento não causa alarde, transforma-se em pânico quando as pessoas começam rapidamente a adoecer e morrer. A peste, que causa febres terríveis, inchaços, dores fortíssimas e agonias diante da morte, passa a fazer parte do cotidiano. Narrado do ponto de vista do médico Rieux, imerso nos esforços para conter a doença, A peste fala de solidariedade, solidão, morte e outros dilemas fundamentais do homem. Para aguçar a vontade, leia este recorte:

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“Houve no mundo tantas pestes como guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas. “ (…) Quando rebenta uma guerra, as pessoas dizem: “Não pode durar muito, seria estúpido.”. E, sem dúvida, uma guerra é muito estúpida, mas isso não a impede de durar. A estupidez insiste sempre e compreende-la-íamos se não pensássemos sempre em nós”.

 

 

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