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Esqueletos da seca
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Esqueletos da seca

Nestes tempos de seca severa que estamos enfrentando estive, junto com amigos, navegando pelo lago da Barragem do Salto e fiquei espantado como recuo da água do reservatório. Na última medição que meu amigo Gerson Arsand fez estava 2,75 metros abaixo do nível do vertedouro e, apesar de não ser um recorde, deixa todos muito preocupados com a situação. Seguimos até o final do reservatório e encontramos um cenário desolador formado por um grande banco de areia depositada ali em camadas de forma lenta e progressiva pelas águas que vem de montante. Caminhando pela areia conseguir ver conchas de caramujos, fezes e pegadas de capivaras, rastros recentes de graxaim, gambá, gado, cavalos, pequenos roedores, saracura e outros não identificados que vem até a margem atrás da preciosa água durante a noite ou mesmo na luz do dia. Ali estão as histórias daquele trecho do Santa Cruz, importante rio que nasce em São Francisco de Paula e abastece Canela, Gramado e, algumas vezes, Nova Petrópolis.
Mais um pouco andando pelo areal e vejo esqueletos de muitas árvores que antes da construção da represa, ali estavam vivas e enraizadas no campo que formava a margem do rio. Com o enchimento do reservatório, sucumbiram e hoje restam seus troncos erodidos pela água, insetos e fungos aquáticos que, no final, criaram verdadeiras obras de arte aleatória, com seus sulcos, dobras, pontas e torções naturais dos troncos formando belas, impressionantes e intrigantes abstrações. Eles ali ficarão até as chuvas encherem novamente o reservatório e os conservarem por dezenas de anos ainda, ao contrário de outras árvores fora da água, que sob o ataque mais severo e impiedoso de insetos, pica-paus e fungos, se decompõem com muito mais velocidade. A água preserva a madeira, retardando sua decomposição, mantendo um esqueleto sem casca e sem folhas parecendo que, indignados com o alagamento, resistem assim por décadas como se ainda tivessem uma vida latente que poderia ser reativada. Na verdade, para mim, elas continuam “vivas” na sua arte de resistirem ao tempo, mostrando-me que, mesmo mortas, ainda possuem uma altivez e uma soberba típica de quem desafia o tempo. Enquanto escrevo esta crônica, vejo com alegria a chuva cantando no telhado e sonorizando a calha com seus inconfundíveis sons abafados de lata sendo golpeada por algo mole e constante. É o som da chuva aqui em casa. Os esqueletos da seca devem agora estar todos encharcados, prevendo novo período de submersão. E segue a vida.

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