FÉRIAS DE JULHO AQUECERAM O TURISMO, MAS EXIGEM REFLEXÕES

TEMPORADA DE INVERNO

O mês de julho está chegando ao fim e novamente registrou grande movimento turístico na região, em especial, em Canela e Gramado. A circulação de visitantes está sendo gerada principalmente pelas férias escolares de inverno. Atraídas pelas baixas temperaturas, muitas famílias escolheram as duas cidades como destino para passeios e lazer. O fluxo turístico aqueceu as vendas no comércio e praticamente lotou restaurantes, parques temáticos e a rede hoteleira.

Ao longo do mês, os atrativos e empreendimentos operaram no limite de suas capacidades de atendimento. Dados do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares (Sindtur Serra Gaúcha), apontam que a ocupação hoteleira desde o dia 2 não baixou de 70%, chegando a 93,15% no final de semana entre os dias 21 (sexta-feira) e 23 (domingo). Há em Canela 82 estabelecimentos de hospedagem, totalizando 5.811 leitos e em Gramado são 206 hotéis e pousadas, com 24.839 leitos.
Na contramão do sucesso turístico da região, antigos problemas sazonais de infraestrutura estão, cada vez mais, expostos e seguem maculando a reputação dos dois municípios, prejudicando a jornada do visitante. Questões negativas, como trânsito travado e desabastecimento de água, provocam uma reflexão entre a comunidade empresarial e lideranças do trade. O tráfego de veículos entre Gramado e Canela, a cada alta temporada, gera congestionamentos enormes e lentidão no percurso entre as duas cidades, o que de certa forma prejudica a experiência do turista.

“As férias de julho foram dentro da expectativa referente ao mês. A ocupação foi muito boa visto que nossa rede hoteleira cresceu muito nos últimos anos”, comenta o presidente Sindtur Serra Gaúcha, Cláudio Souza. “Nosso papel é fomentar a cidade e o poder público nos dar a estrutura necessária. Um dos pontos é a falta de água e desculpas repetidas da Corsan. Precisamos mais serenidade por parte deles. A Prefeitura deve cobrar e fazer cumprir os deveres da concessionária de água”, avalia Souza.
“Quanto ao trânsito, são horários pontuais e em curto prazo. Vejo que com campanhas para nós moradores e trabalhadores possamos otimizar e compartilhar carros na alta temporada. Alguns ajustes nos quebra-molas da avenida das Hortênsias devem ser feitos, retornos nesta avenida devem ser repensados. Com pouco, podemos melhorar”, sugere o empresário.
Os parques temáticos também comemoram o resultado gerado pelas férias de julho. A região conta com uma grande variedade de atrações sendo uma referência neste segmento. “Foi bem positivo. Com as pessoas que conversei sobre o assunto, todas estavam contentes com o resultado. A cidade teve grande movimentação turística”, diz o vice-presidente da Associação dos Parques e Atrações da Serra Gaúcha (Apasg) e diretor do Alpen Park, Renato Fensterseifer Junior. Ele também ressalta que problemas de infraestrutura precisam de soluções.

“A cidade precisa começar a pensar em médio e em longo prazo, em como resolver essas questões, principalmente mobilidade urbana, saneamento, habitação. Com a cidade crescendo, mais pessoas virão pra cá. Onde essas pessoas irão morar, estudar e como terão acesso a saúde?”, questiona. “Antes de divulgação e outros temas que são falados no trade, pra mim, infraestrutura é o ponto crucial que vai fazer com que Canela se desenvolva de uma maneira sustentável ou não”, destaca Fensterseifer.

ALÉM DO TRÂNSITO, AMBULANTES PRECISAM DE SOLUÇÃO, DIZ ACIC

O comércio é um dos setores que mais registra movimentação turística. O segmento vive intensamente o ritmo frenético dos visitantes. “Pelo o que observamos o movimento foi muito grande, mas temos alguns pontos que precisamos melhorar, que é justamente a mobilidade urbana. Sentimos essa necessidade, é urgente. Com certeza, muitos turistas levam uma imagem negativa da região em função desse problema de trânsito”, avalia o presidente da Associação Comercial e Industrial de Canela (ACIC), Maurício Boniatti. “Em Canela, além do trânsito, também temos que trabalhar a questão dos ambulantes ao redor da Catedral. Estamos deixando a desejar neste sentido. Após as férias de julho, temos que nos preparar para o Natal”, observa.

MOMENTO DE AVALIAR NECESSIDADES

Para a empresária do setor turístico Any Brocker Boeira Guimarães, a mobilidade urbana é um dos pontos de infraestrutura que precisa de maior atenção e de alternativas com maior agilidade. “O tempo que o turista perde no trânsito é o tempo que ele poderia estar passeando nos parques, visitando mais lugares e lojas. É um tempo perdido”, lamenta. A empresária defende a união entre Canela e Gramado na busca de soluções para destravar o trânsito na alta temporada. “Os dois municípios precisam achar a solução juntos porque o turista transita entre as duas cidades. A nossa região está em um momento que tem que parar um pouquinho, refletir quais são as nossas necessidades, que tipo de investimento, que tipo de atrativo e principalmente qual infraestrutura precisamos. Acho que estamos no momento de darmos uma parada para avaliarmos o que realmente precisamos e queremos ainda mais para o nosso destino e, talvez, o poder público e o poder privado possam ter esse direcionamento”, comenta Any. “A temporada de julho foi muito boa. Recebemos muitas famílias. Não podemos nos queixar, foi uma ótima temporada”, conclui.

EM DETERMINADOS horários, trânsito fica muito lento na estrada que liga Canela e Gramado

STARTUP APONTA REDUÇÃO DE 7,7% NO TICKET MÉDIO

Durante as primeiras semanas desde o início oficial do inverno, em 21 de junho, o faturamento online médio por estabelecimento na Serra Gaúcha teve um crescimento de 1,2% em comparação ao mesmo período do ano passado. O dado é da Planne, startup que desenvolve soluções de e-commerce para cerca de 100 empresas de Gramado e Canela. Conforme a plataforma digital, esse resultado superou as expectativas, uma vez que a tendência indicava uma redução de 5% em relação a 2022. Apesar do pequeno crescimento, houve uma redução de 7,7% no ticket médio. A redução foi menor do que o esperado, já que havia uma previsão de decréscimo de 15%. "O resultado acabou sendo positivo, com em uma pequena melhora de 1,2% se comparado com 2022”, analisa Gregório Nardini, CEO da startup.

O volume médio de compras teve um aumento de 9,6% e os restaurantes temáticos seguem sendo a atração mais procurada pelos consumidores. Os passeios e tours e os parques também registraram um aumento na procura, com 23,2% e 15,4%, respectivamente. A região Sudeste representa a maior quantidade de turistas durante o inverno, com 37,1% do público. No entanto, o Sul está bem próximo, com 34,8%, e foi a região que apresentou o maior crescimento, com 22% a mais de público em comparação a 2022. “Apesar disso, o Nordeste e o Centro-Oeste tiveram uma redução de 8,4% na demanda, representando agora 23,3% do público”, observa Nardini.