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O correio e os líquens
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O correio e os líquens

Andando por uma rua tranquila e de pouco movimento aqui de Canela, encontrei uma daquelas casas antigas, já meio tapera, situada dentro de um grande terreno cercado por um muro antigo feito de pedras de basalto grandes e pesadas, muito bem construído e com cortes precisos que dizem que os pedreiros da época eram muito bons. Correndo os olhos pelo muro percebo o tempo de abandono, coisa de muitas décadas denunciado pela abundância de líquens que recobrem a superfície exposta das pedras e a insistência de samambaias e musgos de se instalarem nas frestas, onde há algum tipo de apoio para que ali se prendam.
Na entrada da propriedade, com seu portão já mostrando as reformas e remendos feitos na tentativa de conter os invasores curiosos, vejo uma caixa de correio de metal que mostra apenas sua face externa, encaixada entre pedras, que me diz de um tempo que ali naquele lugar tinha mais vida social, pessoas que vinham e iam, que recebiam revistas, cartas e jornais de uma época passada. Quantas histórias esta caixa engoliu e regurgitou do outro lado para os donos da casa, quantos assuntos pessoais, notícias e fotos vindas de perto e de longe entraram por aquela boca larga e negra que agora só recebe poeira e baforadas de ventos úmidos do clima serrano. Os líquens, sabedores do abandono, vão lentamente cobrindo o metal e se expandindo, vindos de uma ou outra parte do muro ali de perto. Sua estreita entrada para as cartas impediu que as corruíras ali entrassem para fazerem seus ninhos de primavera, mas poderia ter servido muito bem a algum enxame de abelhas ávido por um lugar seguro para iniciar nova colmeia.

O correio e os líquens

Muro com líquens, samambaias e musgos


A calçada, igualmente, exibe o abandono e a pouca circulação de pessoas e se tornou, assim como o muro, um jardim de líquens, musgos e gramíneas que ali encontraram espaço e um bom local para seu crescimento, uma vez que tem sempre umidade e poucos pés passando para esmagá-los. Muitas folhas de grandes árvores do terreno, próximas ao muro, caem e ficam depositadas na calçada que mostram um abandono triste, diferente de um tempo em que a vassoura impedia o acúmulo e os donos entravam e saiam com frequência. O conjunto cria uma pintura que, se olhada pelo ângulo de uma composição natural, fica muito interessante e até artístico. Este desenho natural se expressa sempre que um lugar é deixado em paz pelo homem, sem sua interferência, sem condução alguma. O homem constrói, usa e, por alguns motivos, abandona e aí a natureza cria o seu cenário colocando ali plantas e animais que melhor se adaptam àquele lugar, seja em um muro, em uma calçada ou numa tampa metálica de correio. É como se a natureza dissesse aos donos: “deixa comigo que eu resolvo, eu arrumo, eu decoro, eu cuido”.

O correio e os líquens

Caixa de correio

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