O RIO GRANDE DE SAINT-HILAIRE
(nos diários de viagem...)
Poucos estrangeiros observaram o nosso Estado, como o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que há exatos 200 anos aqui viveu uma de suas mais ricas experiências de vida.
Depois de três anos por várias regiões do Brasil, ele aporta no RS, conforme este relato do livro “Rio Grande do Sul, prazer em conhecê-lo”, de Barbosa Lessa...
“Esta Capitania é certamente uma das mais ricas de todo o Brasil e uma das mais bem aquinhoadas pela natureza” – escreve Saint-Hilaire. – “Os ventos, renovando constantemente o ar, fazem com que certas moléstias, tais como as febres intermitentes, sejam aqui inteiramente desconhecidas. As moléstias mais comuns são as doenças do peito e da garganta e os reumatismos, que provêm das contínuas mudanças de temperatura...”.
“..... O solo produz trigo, centeio, milho e feijão com abundância, e experiências tem provado que todas as árvores, cereais e legumes da Europa aqui produzirão facilmente se forem cultivados. Distinguem-se estâncias e chácaras. A estância é uma propriedade onde pode existir alguma cultura, porém ocupa-se principalmente da criação de gado. A chácara tem área bem menor e só se destina à agricultura”.
“..... Segundo dados que me foram fornecidos pelo Senhor José Feliciano Fernandes Pinheiro, a Capitania tem 66.665 habitantes, sendo 32.000 brancos, 5.399 homens de cor livres, 20.611 homens de cor escravizados e 8.655 índios. Nas Missões, segundo Fernandes Pinheiro, existem 824 brancos e 6.395 índios; mas, pelo relatório dos administradores daquela província, a população não vai além de 3.000 gauranis-portugueses”.
“..... Os habitantes passam a vida, por assim dizer, a cavalo, e frequentemente locomovem-se a grandes distâncias com rapidez suposta além das possibilidades humanas. A maioria deles e originária dos Açores, tal como os da Capitania de Santa Catarina. Todavia, uns e outros pouco se assemelham. Os daqui são corpulentos, os outros são magros e pequenos. Os daqui são corados, tem maior vivacidade de modos, os dali tem tez amarelada. Tais diferenças provêm naturalmente de seus regimes e hábitos. Os daqui vivem continuamente a cavalo, fazendo exercícios e respirando o ar mais puro e sadio da terra; os catarinenses vivem da pesca ou do trabalho da terra. Os desta Capitania comem carne, e algumas vezes pão, e os segundos alimentam-se quase somente de peixe e farinha de mandioca”.
Saint-Hilaire, na antevéspera de nossa Independência (1820 / 1821), falou, cantou e contou, com muita propriedade, das impressões de sua viagem em torno do Rio Grande do Sul... a nossa terra!
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