OLIVAS NA REGIÃO DAS HORTÊNSIAS

O DESAFIO DE UMA NOVA CULTURA

Quando uma família de Gramado inaugurou o Parque Olivas de Gramado, na Linha Nova, em 2018, eles plantaram uma ideia que começou a render mais que pés de azeitonas. Depois dos anos iniciais de trabalho incessante de pesquisa e tratamento do solo, o resultado daquela iniciativa aparece agora não só na forma das bolinhas verdes no olival, ainda de pequeno porte se comparado com outros empreendimentos do gênero no Estado e país.
Quem visitava o local há cinco anos percebia que aquela área era de uma grandeza evidente para o bem-estar de quem chegava, pela paz que aquele lugar exuberante instalava no estado de espírito. O solo que sustenta aquele complexo e de onde se descortina um vale recortado como um canyon emana uma energia que ajudaria a vencer o desafio de gerar um fruto milenar, cercado de simbolismo e rico de qualidades para a saúde, a oliva.
Pioneirismo e persistência geralmente andam juntos e André, seus irmãos Daniel e Paula e o pai e mentor Pedro Henrique Bertolucci estavam preparados. Havia uma área a plantar e um produto nobre - cuja história remonta antes dos tempos bíblicos, que já foi usado até na iluminação pública - a vingar. André - buscou formação no assunto e é hoje um dos bons azeitólogos do Rio Grande do Sul, orgulhoso do resultado de seu trabalho. Sabe que seu olival está apenas no início de uma trajetória. Em 29 hectares cultivados (de um total de 153), conta com 12.300 pés plantados, com idades entre quatro e oito anos. Se considerarmos que não são raras oliveiras de 500 anos, o Olivas de Gramado é um olival extravirgem, mas já premiado.

O DIA DA APANHA

Dias de trabalho intenso, encher caixas com as olivas é conquista de toda uma equipe

Instituído pelo Conselho Internacional Oleícola, em Madri, Espanha, o 26 de novembro é o Dia Mundial da Oliveira. Mais interessante seria, acredito, se fosse institucionalizado um Dia da Apanha, que é como se chama, na tradição portuguesa, a colheita das olivas. Talvez essa efeméride não exista porque a época da colheita depende da espécie da azeitona (aí são centenas). Como o Brasil - e nele se destacando o Rio Grande do Sul - está se tornando uma potência na produção de azeites, o dia que abre a colheita tem sido celebrado com alarde.
Na terça-feira (14) estivemos no Olivas de Gramado para registrar e comemorar o primeiro dia de colheita local, quando André Bertolucci divulgou dados sobre o paulatino crescimento do cultivo e processamento dos azeites do estabelecimento. A produção deste ano deve atingir aproximadamente dez toneladas de azeitonas, nas seis variedades Arbequina, Picual, Frantoio, Koroneik, Ascolana e Manzanilla, o que poderá representar um crescimento de até 100% em relação à safra anterior.
O chão forrado com uma imensa malha para que não se perca um grão do fruto das oliveiras arduamente cultivadas, todos pudemos ver e “ripar” (extrair) azeitonas dos galhos, processo que pode ser feito manualmente com garfos. No Parque também é utilizado o derriçador, uma espécie de ancinho elétrico que faz vibrar os galhos altos e caem as olivas. O processamento das azeitonas, utilizando-se somente os melhores frutos, ocorre no término de cada dia de colheita para evitar a oxidação e preservando os antioxidantes naturais.

Há de chegar o dia em que a produção dos Bertolucci faça necessário o uso de equipamentos de grande porte, como os acoplados na frente de tratores, que “abraçam” o tronco das oliveiras, fazem tremer as árvores e elas liberam rapidamente, em lonas próprias, as azeitonas.

Heudi Loesch, que vive na propriedade há muitos anos, é chefe de produção