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Vendo e ouvindo
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Vendo e ouvindo

Gosto de ir a algum lugar remoto onde a paisagem me remete a ausência de rastros humanos ou, pelo menos, com o menor indício de sua presença. Estou agora num destes lugares que escolhi a dedo, tendo à frente o horizonte norte com um mar verde de campos nativos e uma mistura equilibrada de capões de matas de araucária e matas de galeria, aquelas que acompanham as margens dos rios. Bem à frente vem descendo e cantando o Rio Silveira, num período de grande seca, e que recebe calmamente pela direita o Rio do Marco. Pouco acima deste ponto está o famoso Desnível dos Rios, onde estes dois corpos líquidos quase se encontram. A partir deste ponto, o Rio Silveira segue adiante para se atirar no Cachoeirão dos Rodrigues, logo abaixo, e seguir seu sinuoso curso até se encontrar com o Rio Pelotas, na divisa com Santa Catarina.
Os diferentes matizes de cores variam de um verde intenso e claro, típico do tom que mostra o vigor dos campos de primavera e o verde escuro das araucárias. Este equilíbrio de tons de verde dá a paisagem um toque de artista, de um pintor de quadros que escolhe fielmente as cores que vê. Pinceladas de sombras escuras se projetam revelando a posição do sol no momento. Os sons da água e das aves se misturam a paisagem e compõe uma música única, idílica, irreproduzível formada por uma profusão de instrumentos comandados por um maestro invisível.
Percebo que algumas perdizes se comunicam com seu trinado curto e inconfundível, ocultas que estão pelo gramado alto do campo, não se vendo, mas se ouvindo e se encontrando. O vento sarandeia pelos galhos das araucárias fazendo com que dancem ao som de uma música ancestral, girando seus galhos para lá e para cá e emitindo sons de flautas, como se estivessem num concerto campeiro muito alegre e divertido.
Um bando de gralhas se aproxima de mim, agora sentado e escrevendo a sombra de umas araucárias, e começam a espiar este intruso que parece não se mexer. Uma formiga sobe pela minha canela, vencendo o cano da bota e entrando por baixo da calça. Um canário-da-terra macho, aquele todo amarelo, pousa no topo de uma araucária próxima e começa a cantar para uma fêmea invisível. Seu canto parece um chamado desesperado, melodioso, sibilante e alegre, para ser ouvido e querido por uma parceira. É a primavera e seus efeitos sobre os animais e plantas.
As sombras do capão estão mais longas, indicando o passar das horas. Um bando de corucacas passa a baixa altura sobre o campo com seus “crac crac” característicos, indo para algum lugar na direção do Oeste onde estão as casas de uma estância. Um quero-quero dá um alarme distante, sugerindo algum intruso em seu território que, nesta época, está com ninho com seus ovos postos no solo ou já com filhotes, tão pequenos como pintos recém-saídos. São presa fácil para os gaviões que rondam o campo sem descanso. O vento segue seu concerto com as araucárias e parece que vai longe o espetáculo...

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